O conceito de empreendedorismo abrange diferentes segmentos, nichos e mercados. Ele pode estar tanto relacionado a criação de novas empresas (startups), produtos, serviços ou modelos de negócio, cujo foco está diretamente relacionado à geração e maximização de lucros, quanto a criação de soluções para problemas sociais, cujo foco concentra-se mais na geração de valor social e impacto coletivo do que no seu retorno financeiro. Independente do seu modelo, todo empreendedorismo surge, substancialmente, da capacidade de alguém identificar oportunidades, inovar de forma criativa e criar algo novo para a sociedade.
Segundo dados do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), cerca de 42,2 milhões de brasileiros estavam envolvidos com a criação ou manutenção de um negócio próprio em qualquer estágio no Brasil em 2022. Esse valor representa pouco mais de 30% da população do país, responsável por movimentar cerca de 420 bilhões de reais na economia brasileira por ano.
Embora esses valores sejam bastante expressivos, o estudo também aponta para um dado um tanto quanto desafiador, quando consideramos o contexto de criação e desenvolvimento dos pequenos negócios no país:
Pouco mais de 80% dos novos empreendedores indicou que “ganhar a vida devido à escassez de empregos” foi a principal motivação para terem iniciado um negócio em 2022 (GEM,2022).
Isso significa dizer que uma importante parcela desse empresariado é representada, na verdade, por pessoas que recorrem ao empreendedorismo mais por necessidade do que por razões relacionadas à vocação e à vontade de empreender. Outro dado importante da pesquisa, nesse sentido, revela que entre 2021 e 2022 houve redução no empreendedorismo nascente, o que em parte está relacionado à própria recuperação da economia. Essa queda foi puxada, sobretudo, pelos novos empreendedores com mais escolaridade (-29%), mas, entre os novos empreendedores com ensino fundamental incompleto a taxa de abertura de empreendimentos aumentou cerca de 135%, o que reforça o quanto o empreendedorismo no Brasil está galgado pela vulnerabilidade socioeconômica ao qual muitos destes empreendedores estão expostos.
Tais indicadores, no entanto, não desqualificam o empreendedorismo enquanto uma das vias possíveis para a superação da exclusão de grupos historicamente marginalizados da sociedade, como mulheres, pessoas negras, minorias étnicas e outras comunidades vulneráveis. Para além de ser uma questão socialmente complexa, a reflexão e ação relacionada à inclusão produtiva exige um olhar integrado, que passa tanto pela adoção de medidas que promovam a qualificação desses profissionais para inserção no mercado de trabalho formal (via emprego) quanto a capacitação e apoio abrangente para os trabalhadores que estejam dispostos a empreender.
Não por acaso, organizações como Artemisia, Aliança Empreendedora, Rede Mulher Empreendedora, SEBRAE e o próprio Instituto Rebbú veem o empreendedorismo como um meio legítimo para a redução da pobreza e geração de renda, além de oportunizar que diferentes grupos da sociedade, independente de gênero, raça, território e idade, tenham uma melhor condição de vida.
A partir das experiências do Instituto Rebbú com mulheres empreendedoras que confeccionaram absorventes ecológicos em seis estados do Brasil, por exemplo, percebemos que existe muita determinação dessas mulheres em aprender algo novo, principalmente, que possa ser uma oportunidade de renda extra, qualidade de vida e bem estar não só para elas, mas para sua família e a comunidade como um todo.
Para Francilene Santos, Diretora de Comunidades do Piauí no Instituto Rebbú, durante sua atuação com empreendedorismo na comunidade Mulheres Vila da Guia em Teresina, esses benefícios eram evidentes:
“O empreendedorismo é fundamental para comunidade periférica, primeiro, na criação de empregos, onde as mulheres conseguem manter suas famílias ou pelo menos ter uma renda extra, reduzindo a desigualdade social e, segundo, no desenvolvimento econômico da própria comunidade que atuam, pois através de inovação e criatividade das próprias empreendedoras, elas conseguem suprir uma necessidade da comunidade através da entrega de um serviço ou produto que vai além do lucro, mas de suprir um desafio social”.
Neste segmento de atuação com mulheres periféricas empreendedoras, entendemos, portanto, que mais do que uma ferramenta de desenvolvimento de pessoas e empresas, o empreendedorismo também se apresenta como uma importante ferramenta que conecta essas empreendedoras a possibilidade de criarem soluções próprias para os problemas sociais que vivenciam e compartilham dentro de suas comunidades.
Além disso, em nossa atuação também percebemos que existe uma preocupação muito grande dessas empreendedoras em relação ao desperdício de matéria prima, água, energia ou até mesmo poluição que seus negócios possam gerar ao meio ambiente, pois elas vivenciam em sua rotina problemas como o entupimento dos esgotos, enchentes e a falta de energia e de água. Assim, tudo que é aprendido no empreendedorismo por essas mulheres vem para somar e mudar a realidade da comunidade, que sofre com as mudanças climáticas e com a desigualdade socioeconômica, demonstrando também o diferencial das soluções que nascem dentro das comunidades quando comparadas às soluções que surgem a partir do trabalho de grandes empresas.
Além dos benefícios perceptíveis para a comunidade, também, a partir da nossa experiência, observamos o quanto para muitas dessas mulheres periféricas o empreendedorismo se apresenta como uma possibilidade de empoderamento econômico e liberdade financeira, oferecendo mais oportunidades de desenvolvimento pessoal e de carreira, algo que elas não encontram facilmente no mercado de trabalho. Colocadas em uma posição marginalizada pela sociedade, essas mulheres, de sua maioria pretas, pardas e indígenas, enfrentam ao longo de suas vidas inúmeras barreiras para encontrarem emprego com carteira assinada, sofrem preconceitos, e acabam se submetendo, muitas das vezes, a condições precárias de trabalho para garantir a sua sobrevivência. Por essa razão, o ato de empreender, para muitas delas, é revolucionário, pois é a partir delas que pequenas atitudes transformam realidades.
“O empreendedorismo oferece uma oportunidade para as mulheres de desenvolvimento pessoal, pois é necessário coragem para empreender e mostrar seus empreendimentos, perder a vergonha, sendo um ganho para o empoderamento feminino, permitindo que elas assumam o seu futuro econômico” - Francilene dos Santos
Quando se trata de reduzir desigualdades, considerar estratégias que abordem o desenvolvimento humano e comunitário nesse processo é fundamental. No Instituto Rebbú acreditamos que as soluções para muitos desafios nascem das próprias comunidades e, para nós, são as mulheres as principais responsáveis por liderar esse processo. É por isso que em nossos projetos sempre buscamos promover temas como diversidade, raça e protagonismo feminino, pois é a partir dessas pautas que mudanças estruturais acontecem.
Conheça mais sobre o nosso trabalho e nos ajude a chegar cada vez mais longe!
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